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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Amor de Perdição

Em Amor de Perdição encontramos o traço principal da novelística passional de Camilo: a conceção do amor como uma espécie de destino, de fatalidade, que domina e orienta e define a vida (e a morte) das personagens principais.

Marcado pela transcendência, esse amor trará consigo sempre um equivalente de sofrimento e de infelicidade: ou porque a paixão choca frontalmente com as necessidades do mundo social, ou porque significa, em última análise um desejo de recuperar o paraíso na terra.

As personagens desfilam como “mártires do amor” que, no sofrimento, encontram a razão de ser e o sentido mais profundo da sua vida.

A obra acabou por se tornar uma espécie de Romeu e Julieta lusitano. Tem o traço shakespeareano onde as nobres famílias Botelho e Albuquerque vêem o ódio mútuo ameaçado pelo amor entre Simão Botelho e Teresa Albuquerque.
Simão - o herói romântico, cujos erros passados são redimidos pelo amor .
Teresa - a heroína firme e resoluta no seu sentimento de devoção ao amado. 
 Mariana -, a mais romântica das personagens, tendo em vista a abnegação.
Todos representam a dimensão amorosa, o sentimento da paixão, ao qual se opõe o mundo exterior, a sociedade com sua hipocrisia.

A apresentação de Simão Botelho pelo narrador é essencialmente romântica: é feita de um modo a parecer real, verdadeira, e não ficcional. Os escritores românticos serviam-se de recursos como este presente em Amor de Perdição para que suas obras tivessem maior credibilidade, conquistassem a confiança do leitor.

Os elementos realistas de Amor de Perdição estão na crítica às instituições religiosas, os conventos, e no comportamento não-passional de alguns personagens secundários, como João da Cruz, É possível perceber estes elementos nas passagens da obra em que o narrador denuncia a corrupção do convento de Viveu e enfatiza a lealdade, o senso prático, a sensatez de João da Cruz, relativizando assim a passionalidade predominante no romance.

Esta obra caracteriza-se por um narrador omnisciente, isto é, um narrador que desvenda o universo interior dos personagens, sabendo mais do que eles próprios, o que lhes passa pela mente e pelo coração, na medida em que ele não só revela mas também comenta os sentimentos e comportamentos dos personagens, deixando claro o seu ponto de vista a favor dos que amam e contra os que impedem a realização do amor.

A estrutura de Amor de Perdição é resumida pelo narrador na introdução da obra da seguinte forma: “amou, perdeu-se e morreu amando”.

Introdução “amou” -Apresentação global do infortúnio de Simão Botelho – o degredo.

Desenvolvimento “perdeu-se”- • Amor de Simão e Teresa – correspondido, mas proibido. • Amor de Mariana por Simão – não correspondido. • Assassínio de Baltazar Coutinho. • Condenação de Simão ao degredo. • Ida de Teresa para o Convento. • Morte de Teresa.

Conclusão “morreu amando”  • Morte de Simão. • Suicídio de Mariana.


Simão Botelho-  A princípio mostra-se como um rebelde de temperamento incontrolável e cruel. Um grande perturbador e agitador da ordem pública e uma fonte interminável de desgostos para os seus pais. Modifica o seu comportamento de forma brusca quando começa a nutrir sentimentos pela jovem vizinha Tereza de Albuquerque. O amor  transforma-o, redime-o, modifica-o, apresentando Simão a partir de então um caráter cheio de virtudes e um sentimento realmente puro e verdadeiro. Torna-se honesto, estudioso e responsável, pois deseja obter condições de sustento para viver com a amada. O único sentimento que Simão não perde apesar de toda a transformação é o sentimento de vingança que culmina com o assassinato de Baltazar Coutinho, primo de Tereza. A passionalidade de Simão também é recuperada a partir deste episódio na medida e que ele foge das tentativas de absolvição deste crime declarando-se sempre como culpado e demonstrando-se firme e obstinado. Simão é o estereótipo do típico herói romântico, pois é rebelde, insatisfeito, anseia por um amor absoluto que só poderá atingir depois da morte. 
O herói romântico vive em conflito com a sociedade opressora, de modo que a sua atitude oscila entre um ser ora marginalizado, desregrado, ora dotado de virtudes, justamente como forma de rebelar-se contra tal realidade.

Tereza de Albuquerque é a protagonista feminina. Uma jovem de apenas quinzes anos que se apaixona de forma proibida pelo vizinho Simão Botelho. Tereza, aparentemente frágil, assim como o amado, sustenta uma personalidade de caráter firme e resoluto que enfrenta tudo e todos pelo seu sentimento. Atua de forma inflexível perante as sucessivas ameaças do seu pai, um homem cruel e autoritário. Ela não age diretamente como Simão (devido principalmente a condição subjugada a mulher de sua época), porém demonstra a mesma obstinação do amado, preferindo até mesmo o martírio, o enclausuramento e até a perda a vida do que ceder a vontade de um casamento forçado pelo seu pai. Age guiada somente pelo amor. Por estas e outras características, Tereza assume a posição de heroína romântica.

 Mariana é a terceira peça principal desta história formando o  triângulo amoroso mesmo que de forma não correspondida e indireta. É uma moça humilde, abnegada e triste, sendo considerada como a personagem mais romântica. Cuida de Simão com extremo devotamento quando este mais necessita, passando a nutrir um amor puro, mas sem esperanças, que tudo suporta e tudo perdoa até mesmo a paixão deste por Tereza. O seu amor é sublimado, dedicado, fazendo esta de tudo para ajudar o amado, tornando-se até mesmo cúmplice da sua paixão proibida, nunca rivalizando com Tereza. Quando Simão é preso, Mariana abandona o pai e passa a viver na sua companhia na prisão. A sua entrega culmina com seu suicídio quando se lança ao mar ao ver o corpo de Simão ser lançado. Ela é a própria personificação do espírito de sacrifício.



domingo, 23 de abril de 2017

O Sentimento de um Ocidental

No longo poema O Sentimento dum Ocidental, constituído por quatro partes
 ( I - AVÉ-MARIAS / II - NOITE FECHADA / III - AO GÁS / IV - HORAS MORTAS) ,
 o poeta deambula mais uma vez pela cidade de Lisboa passando pelo cais junto ao Tejo e pelas ruas limítrofes; à medida que vai passeando, anoitece (os subtítulos das quatro partes em que o poema se divide explicitam-no).
O poeta descreve o espaço, a gente que passa ou que trabalha, ambientes, e enuncia as suas sensações, as impressões que vai recolhendo (o cheiro a gás, o ar acinzentado das casas envoltas na neblina). Ao longo do poema o sujeito revela, contudo, estar mais voltado para a sua própria interioridade por onde vai "deambulando" também.

terça-feira, 4 de abril de 2017

Amores Impossíveis





 Todos os homens, mesmo os que são alheios à arte das musas, se tornam  poetas quando são tocados por Eros.
                                                                                                                                               Platão

  

   




     Tiveste a oportunidade de conhecer a história de um amor impossível entre Madalena e Manuel de Sousa Coutinho e Simão e Teresa. Mas o mundo, ao longo dos tempos, assistiu a muitos outros dramas de apaixonados que o destino desuniu.
     Chegou a tua vez de conheceres alguns desses pares amorosos. Eles pedem-te que investigues e contes a sua história para que ela se possa perpetuar na memória de todos nós. Afinal, só o amor vale a pena  ser contado, não achas? E que dizer dos amores impossíveis quando se transformam em amores infinitos?

Eis alguns pares amorosos:

Romeu e Julieta
Pedro e Inês
Tristão e Isolda
Orfeu e Eurídice
Heloísa e Abelardo
Paulo e Virgínia
Heathcliff e Cathy
Carlos e Joaninha
Carlos e Maria Eduarda
Páris e Helena
Otelo e Desdémona
Shah Jahan & Mumtaz Mahal
Penélope e Ulisses
Hamlet e Ofélia

Ilustra com um quadro.

1- Resume a sua história e apresenta-a aos teus colegas.
2- Localiza-a no tempo e no espaço.
3- Refere se é verdadeira ou fruto da imaginação de um escritor.
4- Refere traços de interculturalidade (diversidade cultural, étnica, religiosa). Repara se esses aspetos foram impeditivos da união dos amantes ou, se pelo contrário, os aproximaram.
5- Indica a bibliografia por ti consultada.

Data limite de entrega: 13/14 de abril 2022









domingo, 12 de março de 2017

Sugestões de Leitura

Aqui ficam sugestões de leitura que poderás ter em conta para a tua apresentação oral.



AUTORES PORTUGUESES

Camilo Castelo Branco

A Queda dum Anjo (1866)

O Retrato de Ricardina (1868)

A Filha do Regicida (1875)

Eusébio Macário (1879)


A Brasileira de Prazins (1882)
...

Júlio Dinis

Uma Família Inglesa (1868)
Os Fidalgos da Casa Mourisca
A Morgadinha dos Canaviais (1868)
As Pupilas do Senhor Reitor (1867)


Eça de Queirós

O Crime do Padre Amaro (1875)
O Primo Basílio (1878)
A relíquia (1887)
Os Maias (1888)
A cidade e as serras (1901, Póstumo)


Autores do séc. XIX

Franceses

Alexandre Dumas, pai
Conde de Montecristo
Os Três Mosqueteiros

Victor Hugo
Os Miseráveis
Nossa Senhora de Paris (O Corcunda do Notre Dame)

Gustave Flaubert
Madame Bovary

Emile Zola
Germinal
Thérèse Raquin

Ingleses e Americanos

Autores do séc. XIX

Jane Austen
Sensibilidade e Bom Senso
Orgulho e Preconceito
Emily Brontë
O Monte dos Vendavais ou Monte dos Ventos Uivantes

Charlotte Brontë
Jane Eyre

Mary Shelley
Frankenstein

Edgar Allan Poe
Contos Misteriosos e Fantásticos
Contos Policiais

Charles Dickens
David Copperfield
Grandes Esperanças
Oliver Twist
Um Conto de Natal
Um conto de Duas Cidades
Tempos Difíceis

Lewis Carroll
Alice no País das Maravilhas

Oscar Wilde
O Retrato de Dorian Gray

Herman Melville
Moby Dick, a baleia branca

Mark Twain
Tom Sawyer
Huckleberry Finn

Sir Conan Doyle
Sherlock Holmes (contos)
Robert Louis Stevenson
A Ilha do Tesouro
O Médico e o Monstro

Somerset Maugham
Servidão Humana
O Véu Pintado

Nathaniel Hawthorn
A Letra Escarlate

Russos

Leão Tolstoi
Anna Karenina
Guerra e Paz


Nikolai Gogol
O Capote



Autores do séc. XX

John Steinbeck
A Leste do Paraíso
As Vinhas da Ira
A Pérola
A Um Deus Desconhecido

Ernest Hemingway
Por Quem os Sinos Dobram
Adeus às Armas

F. Scott Fitzgerald
O Grande Gatsby
Terna é a Noite












terça-feira, 7 de março de 2017

Antero de Quental

A 3ª Geração Romântica



O TERCEIRO ROMANTISMO ASSUME AS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS:

·         Retoma os grandes temas do Primeiro Romantismo;

·         Critica abertamente o segundo Romantismo;

·         Orienta-se por um Romantismo filosófico

·         Assume preocupações humanistas e universalistas;

·         Busca, de forma racional, o ideal transcendente.


 CARACTERÍSTICAS ROMÂNTICAS EM ANTERO DE QUENTAL 

Os poemas extensos (odes ou alegorias) oscilam entre um romantismo humanitarista polémico e um romantismo de negrume pessimista e noturno. [...] [Há, a nível estilístico,] um importante lastro romântico, mesmo nos sonetos, que são uma forma de tradição clássica [em Antero com algumas raízes camonianas]. [...] É ainda virtualmente «elmanista» [um Bocage que Antero repudiou] todo o lançamento grandiloquentemente visionário de alguns sonetos [...], certos grandes rasgos sentimentais, os cenários fantasmagóricos do terror crepuscular ou noturno, a obsessão da morte, a multiplicidade de personificações, ou mitificações, de maiúscula inicial ‑ bem como o alegorismo a que dão ensejo. [...]

Mas há ainda talvez mais evidentes estigmas de um romantismo visionário, como o claro-escuro [...] do vocabulário predileto.          

Óscar Lopes, Antero de Quental ‑ Vida e legado de uma utopia

São evidentes as marcas românticas da sua poesia; o seu «eu» lírico é continuamente atraído pela Morte: a morte é o motivo dominante dos seus poemas.

Tal como o cristianismo, Antero vê o Amor e a Justiça para lá da morte; só que, para o cristianismo essa redenção é operada não apenas pela força e boa vontade do Homem, mas também, e sobretudo, pelos méritos de Cristo crucificado, e, para Antero, é a evolução necessária e fatal da humanidade (o evoluir da Ideia idealista-racionalista) em direção a esse ideal de Justiça e Amor, pressupondo sempre a luta e a morte dos heróis.

Outro sinal de romantismo é o tema da Noite. Se a Morte surge em Antero ao estabelecer a relação horizontal «eu»/mundo, a Noite aparece sempre que o poeta estabelece a relação vertical «eu»/Deus («eu» e as «coisas tenebrosas»). «Nessa situação, a Noite é sem dúvida o principal topos catalizador da relação. A função deste elemento na obra de Antero inscreve-se dentro do mais puro espírito romântico. A Noite é, acima de tudo, a presença do além (e, portanto, a possível formalização do espaço que as «coisas tenebrosas» ocupam) no aqui do «eu» que interroga. Não possuindo nem forma, nem espaço, nem tempo ‑ «Noite sem termo, Noite do não Ser» ‑ ela é a melhor maneira de designar o espaço das coisas sagradas (o inominável) face ao mundo das coisas naturais. A Noite é a própria sacralização do divino.»


PREDILEÇÃO DE ANTERO PELO SONETO


A forma do soneto adapta-se admiravelmente à expressão sintética da evolução dialética da Ideia: o soneto é a miniatura artística de um universo em que a Ideia, como um astro, se desenvolve em forma de órbita. Com efeito, no soneto, o desenvolvimento do assunto faz-se geralmente assim: nas duas quadras e no primeiro terceto apresentam-se os factos e desenvolvem-se as ideias de maneira a que, no último terceto, surja com naturalidade uma conclusão intensamente emotiva. Só assim se poderá afirmar, como é de regra, que o bom soneto termina com chave de ouro.

O soneto «é o modo de expressão do lirismo puro, o modo como Dante, Miguel Ângelo, Shakespeare e Camões vazaram os sentimentos mais íntimos das suas almas, o que significa também que o soneto é, em função das particularidades da sua forma, um molde - lugar onde um sentido fica preso, gravado em epitáfio para sempre. Sem dúvida é o que melhor se coaduna com o seu pensar intensivo, simplificante, concentrado e clássico, no dizer de António Sérgio»

Os românticos abandonaram o soneto, certamente por esta forma poética lhes exigir uma disciplina formal que não estava de forma alguma nos seus hábitos. Mas o facto de Antero colaborar com as realistas na reabilitação do soneto não significa que  tenha sido realista na sua obra poética. São, pelo contrário, evidentes as marcas românticas da sua poesia; o seu «eu» lírico é continuamente atraído pela Morte: a morte é o motivo dominante dos seus poemas.


Antero de Quental, poeta filósofo?

Não há, a nosso ver, razão para responder afirmativamente a esta pergunta. Com efeito, o poeta só indiretamente conheceu a teoria de Hegel que explica a evolução histórica segundo a tese, antítese e síntese, não chegando a assimilá-la com perfeição. As Odes Modernas revelam-nos, no entanto, a grande paixão com que o poeta abraçou e cantou os ideais oriundos da filosofia de Hegel, da evolução histórica defendida por Michelet, da teorias socialistas exaltadas por Proudhon. O tom revolucionário de grande parte dos poemas das Odes tem origem nessa sua paixão e orienta-se à transformação radical da tradição portuguesa.

Há em Antero um revolucionário e um místico. E ele próprio que o confessa: «Penso como Proudhon e Michelet, como os ativos; sinto, imagino e sou como autor da Imitação de Cristo».

Por tudo isto e por muito mais que da sua vida e obra podemos deduzir, impõe-se-nos esta conclusão: a poesia de Antero é essencialmente romântica e o seu «eu» lírico, um herói romântico.    

António Afonso Borregana, Antero de Quental. O Texto Em Análise - Ensino Secundário, Lisboa, Texto Editora, 


EVOLUÇÃO IDEOLÓGICA DA POESIA DE ANTERO DE QUENTAL

 Ao longo da sua vida, o posicionamento ideológico do autor sofre transformações. Costuma assinalar-se diacronicamente a evolução da sua ideologia do modo seguinte:

Abandono do catolicismo /Dúvida e incerteza

A crença no catolicismo é completamente abalada nos primeiros anos da vida universitária. Cai, assim, num estado de dúvida e incerteza que o faz sentir uma angustiante aspiração pelo Absoluto.

 Idealismo hegeliano

As suas leituras levam-no a imbuir-se no hegelianismo e a preencher a sua produção poética com meditações metafísicas radicadas no evolucionismo idealista do filósofo Hegel.

Segundo o idealismo, as coisas só se entendem como manifestações da ideia. Ora, os seres não têm existência inteligível fora da ideia, que é a única realidade inteligível e da qual o mundo é produto, evolução e manifestação.

Hegel diz que a Ideia é movida por uma necessidade intrínseca para a sua determinação, para a sua manifestação. Mas, ao determinar-se, cada manifestação da Ideia (Tese) esbarra na sua contrária (Antítese) e logo se transforma numa nova (Síntese). Esta tríade não pára até se consciencializar no indivíduo e no estado.

 Socialismo utópico

Se o hegelianismo explica a origem e a realidade do Universo em Evolução, não resolveu o problema do homem na terra, por isso surge a questão «Para que nos criastes?». Antero vai agora à procura do sentido prático da vida que lhe será indicado por Michelet e Proudhon.

 Apostolado social

Antero lançou-se na ação social e labutou afincadamente pela implantação de uma ordem na sociedade portuguesa. O seu socialismo nada teve de revolucionário ou de anárquico. O bem-estar social devia provir não de uma revolta armada mas da evolução pacífica, baseada na moralidade, na instrução e na autopromoção da classe trabalhadora.

 Pessimismo e budismo

Gorada a ação social, vitimado pela doença e outras contrariedades, encheu-se-Ihe a alma de pessimismo, sob influência de Schopenhauer para quem tudo no mundo é impulso (vontade) que ao agir só encontra obstáculos. Assim, na terra, tudo é obstáculos, tudo é dor.

Antero convenceu-se que o Universo era um sofrimento sem finalidade e que tudo caminhava inevitavelmente para o nada. Só a consciência não fazia esse percurso porque devia esforçar-se para atingir o Nirvana, onde havia um repouso completo, o impulso não depararia com obstáculos, e vigoraria o desejo do não-ser, posição a que chegou por leituras de Hartmann que, em A Religião do Futuro, combate o catolicismo e o protestantismo, propondo uma religião que seria uma síntese de panteísmo hindu e de maometismo judeo-cristão.

Dossier Exame ‑ Português A, 12º ano, 
Maria José Peixoto, Célia Fonseca, Edições ASA, 2003





LINHAS TEMÁTICAS DOS SONETOS DE ANTERO DE QUENTAL

1. A expressão do amor: o amor espiritual

Nestes, Antero canta os seus amores, espiritualizados, à semelhança de Petrarca. Há nestes poemas a adoração abnegada do Eterno Feminino.

Os textos poéticos «Abnegação», «Ideal», «Idílio» inscrevem-se nesta linha temática.

 2. As preocupações sociais, as ideias revolucionárias

A degeneração da burguesia num capitalismo de especulação que nada produzia faz com que Antero apele para: a Justiça, o Pensamento, a Ideia (que será a luz do mundo), a revolta e a luta (até tudo estar no seu lugar), o trabalho (de que alguma coisa ficará), o Cristo (avô da plebe), a liberdade (sob o império da Razão).

Sob esta égide encontram-se os sonetos «A um poeta», «Evolução», «Hino à Razão», «Tese e Antítese», «A Ideia» e muitos outros.

 3. O pessimismo e a evasão

O pessimismo manifesta-se em 1874 e desenvolve-se desde 1876 a 1882; extingue-se nos anos imediatos e em 1886 deixava o poeta, sem nostalgia, numa região espiritual já percorrida.

Nos sonetos deste ciclo vê-se a dor em todo o lado e ouve-se continuamente dizer que é preferível o «não ser» ao «ser como é».

Vêem-se já influências de Hartmann e do budismo.

É o pessimismo que leva Antero a evadir-se, a fugir para-além de tudo o que existe e o faz sofrer. Procura refugiar-se num mundo indefinido, longínquo e vago, na ação material, absorvente e enérgica, num sono no colo da mãe, no desprendimento do sensível, na aspiração a um Deus clemente, que o leve para o Céu.

Estes conteúdos são visíveis nas composições poéticas «O Palácio da Ventura», «Mãe», «Despondency», «Nox», entre outras.

 4. A metafísica, Deus e a morte

A leitura de Proudhon e Hegel, o falecimento de pessoas queridas e a sua enfermidade levaram-no a meditar na morte, que é considerada sob vários aspetos: morte ‑ liberdade; morte ‑ fim de todos os sofrimentos; morte ‑ irmã do amor e da verdade; morte ‑ consoladora das tribulações; morte ‑ berço onde se pode dormir; morte ‑ paz santa e inefável.

Reportados a esta quarta linha temática encontram-se, por exemplo, os sonetos «A um crucifixo», «Na mão de Deus», «À Virgem Santíssima», «Solemnia Verba». 

segunda-feira, 6 de março de 2017

Poemas de Antero de Quental

Despondency


Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade...
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram...

Deixá-la ir, a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul levantaram...

Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
À morte queda, á morte silenciosa...

Deixá-la ir, a nota desprendida
D'um canto extremo... e a última esperança...
E a vida... e o amor... Deixá-la ir, a vida!


A Um Poeta

Tu que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno.

Acorda! É tempo! O sol, já alto e pleno
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! É a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,
Sonhador, faze espada de combate!



NOX


Noite, vão para ti meus pensamentos,
Quando olho e vejo, à luz cruel do dia,
Tanto estéril lutar, tanta agonia,
E inúteis tantos ásperos tormentos...

Tu, ao menos, abafas os lamentos,
Que se exalam da trágica enxovia...
O eterno Mal, que ruge e desvaria,
Em ti descansa e esquece alguns momentos...

Oh! Antes tu também adormecesses
Por uma vez, e eterna, inalterável,
Caindo sobre o Mundo, te esquecesses,

E ele, o Mundo, sem mais lutar nem ver,
Dormisse no teu seio inviolável,
Noite sem termo, noite do Não-ser!



Hino à Razão

Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece.
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre só a ti submissa.

Por ti é que a poeira movediça
De astros, sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.

Por ti, na arena trágica, as nações
buscam a liberdade entre clarões;
e os que olham o futuro e cismam, mudos,

Por ti podem sofrer e não se abatem,
Mãe de filhos robustos que combatem
Tendo o teu nome escrito em seus escudos!



LACRIMAE RERUM

(A Tommazzo Cannizzarro)

   
Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!

Aonde são teus sóis, como corte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem porque vaga desolado
E em vão busca a certeza que o conforte?

Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...

É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das coisas tenebrosas...



Na Mão de Deus









quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Fernão Lopes

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terça-feira, 17 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017