segunda-feira, 5 de maio de 2025

Características da poesia de Cesário Verde

 

Cesário Verde disse um dia, em carta enviada ao seu amigo Silva Pinto :

                              A mim o que me rodeia é o que me preocupa.”

 

Duma fase romântica, em que se manifesta um gosto acentuado pela paisagem campestre, o poeta evolui no sentido do social, da procura da justiça e da solidariedade, deambulando pelas ruas de Lisboa e sofrendo com os dramas da sua gente simples e humilde.

 

Identificando a visão plástica, de aguarelista, com a visão do poeta, fiel, por outro lado, à estética do positivo e do sincero, Cesário superou o naturalismo, isto é, a pretensão da estrita objetividade. O estilo de Cesário traduz, por vezes, uma atitude impressionista, em que avulta uma sensação inicial, só depois referida ao objeto(“amareladamente, os cães parecem lobos”), ou então se combinam sensações e se misturam o físico e o moral  (“Ombros em pé, medrosa e fina...”).

A obra de Cesário Verde, pelas múltiplas influências que nela se cruzam, é o ponto de encontro de várias correntes que eram ou haviam de ser importantes na cultura portuguesa:

 

_ Realismo                                  _Parnasianismo

_Impressionismo                        _Simbolismo

_Surrealismo                              _Neo-realismo

 

Oposição Cidade/Campo

     O tempo-espaço inicialmente definido nos poemas de Cesário é a cidade, a realidade presente que, ao ser contrastada com a metáfora antinómica representada pelo campo, é definida como confinadora e destrutiva.

     Ao nível pessoal a cidade representa a ausência, a impossibilidade ou a perversão do amor.

    Ao nível social, a cidade significa opressão, fechamento, doença e morte; o campo a possibilidade do exercício da liberdade, saúde e vida.


  A IMAGÉTICA FEMININA  

Cesário ama a distanciação, o afastamento. Assim ela passa, vagueia, é entrevista no luxo de uma carruagem veloz. Isso permite-lhe avaliá-la na plástica dos seus sentimentos, na imponência que pode seduzi-lo, no luxo de sedas e veludos que a distinguem, na soberbia do carro que a transporta.


O poeta depara com dois tipos de mulher que estão articulados com os dois locais em que se movimentam. Assim, tal como a cidade se associa à fatalidade, à morte, à destruição, à falsidade, também a mulher citadina é apresentada como frívola, calculista, dominadora, destrutiva, sem sentimentos. O erotismo da mulher fatal é humilhante, conseguindo reduzir o amante à situação de presa fácil.

     Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino que é o oposto. É frágil, terna, ingénua, despretensiosa, mesmo que enquadrada na cidade. Desperta no poeta o sentimento de protecção, mas não o de se prostrar aos seus pés.

     Há pois dois tipos de mulher na poesia de Cesário: mulher fatal / mulher angélica, associadas à morte e à vida, à cidade e ao campo, respetivamente.