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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Frei Luís de Sousa-Texto dramático

É constituído por:

Texto principal- composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;

Diálogo
Monólogo
Apartes

Texto secundário (Didascálias) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:

pela listagem inicial das personagens;
pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
pelas indicações sobre o cenário e guarda roupa das personagens;
pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;



 Estrutura externa atos, correspondentes à mutação de cenários, e cenas, equivalentes à mudança de personagens em cena.

 Estrutura interna:

Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.


Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:

Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.

Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.



Tempo da representação – duração do conflito em palco;
Tempo da acção ou da história – o(s) ano(s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;




Frei Luís de Sousa-Atmosfera


Há ao longo da intriga dramática uma atmosfera psicológica do sebastianismo com a crença no regresso do monarca desaparecido e a crença no regresso da liberdade.

Telmo Pais é quem melhor alimenta estas crenças, mas Maria mostra-se a sua melhor seguidora.

Percebe-se também uma atmosfera de superstição, nomeadamente desenvolvida em redor de D. Madalena.

Tal como na tragédia clássica, também o fatalismo é uma presença constante. O destino acompanha todos os momentos da vida das personagens, apresentando-se como uma força que as arrasta de forma cega para a desgraça. É ele que não deixa que a felicidade daquela família possa durar muito.

Frei Luís de Sousa-Simbologia

Vários elementos estão carregados de simbologia, muitas vezes a pressagiar o desenrolar da ação e a desgraça das personagens. Apenas como referência, podemos encontrar algumas situações e dados simbólicos:

- A leitura dos versos de Camões referem-se ao trágico fim dos amores de D. Inês de Castro que, como D. Madalena, também vivia uma felicidade aparente quando a desgraça se abateu.

- O tempo dos principais momentos da acção sugerem o dia aziago: sexta-feira, fim da tarde e noite (Acto I), sexta-feira, tarde (Acto II), sexta-feira, alta noite (Acto III); e à sexta-feira D. Madalena casou-se pela primeira vez; à sexta-feira viu Manuel pela primeira vez; à sexta-feira dá-se o regresso de D. João de Portugal; à sexta-feira morreu D. Sebastião, vinte e um anos antes.

- A numerologia parece ter sido escolhida intencionalmente. Madalena casou 7 anos depois de D. João haver desaparecido na batalha de Alcácer Quibir; há 14 anos que vive com Manuel de Sousa Coutinho; a desgraça, com o aparecimento do Romeiro, sucede 21 anos depois da batalha (21= 3 x 7).

O número 7 é um número primo que se liga ao ciclo lunar (cada fase da Lua dura cerca de sete dias) e ao ciclo vital (as células humanas renovam-se de sete em sete anos), representa o descanso no fim da criação e pode-se encontrar em muitas representações da vida, do universo, do homem ou da religião; o número 7 indica o fim de um ciclo periódico.

 O número 3 é o número da criação e representa o círculo perfeito. Exprime o percurso da vida: nascimento, crescimento e morte. O número 21 corresponde a 3 x 7, ou seja, ao nascimento de uma nova realidade (7 anos foi o ciclo da busca de notícias sobre D. João de Portugal e o descanso após tanta procura); 14 anos foi o tempo de vida com Manuel de Sousa (2 x 7, o crescimento de uma dupla felicidade: como esposa de Manuel e como mãe de Maria;  21 anos completa a tríade de 7 apresentando-se como a morte, como o encerrar do círculo dos 3 ciclos periódicos.

 O número 7 aparece, por vezes, a significar destino, fatalidade (imagem do completar obrigatório do ciclo da vida), enquanto o 3 indica perfeição; o 21 significa, então, a fatalidade perfeita.

- Maria vive apenas 13 anos. Na crença popular o 13 indica azar. Embora como número ímpar deva apresentar uma conotação positiva, em numerologia é gerado pelo 1 + 3 = 4, um número par, de influências negativas, que representa limites naturais. Maria vê limitados os seus momentos de vida.

Frei Luís de Sousa-Tempo

 Tal como o espaço, também o tempo se fecha e concentra.
 Inicialmente amplo e vasto (21 anos).
·      1578 – batalha de Alcácer Quibir.
·      +7 – anos de buscas por parte de Madalena.
·      +14 – segundo casamento / +13 nascimento de Maria
·    

No presente, a peça passa-se numa sexta-feira à tarde, 21 anos após a batalha de Alcácer Quibir. Passam oito dias desde o incêndio (noite de sexta para sábado), é de novo sexta-feira.
Toda a acção dramática se passa “Hoje”, o dia em tudo se concentra: por um lado, Madalena teme esse dia; por outro lado, D. João quer chegar ali “Hoje” (é o dia em que faz 21 anos que ocorreu a batalha).

Em síntese, podemos dizer que a acção, espaço e tempo convergem e concentram-se progressivamente, até à tragédia final.

Frei Luís de Sousa- Espaço

 O espaço situa-se em três lugares: o palácio de Manuel de Sousa Coutinho (acto I), palácio de D. João de Portugal (acto II) e a capela / parte baixa do palácio (acto III).

            A mudança do ato I para o II é provocada pelo incêndio e o espaço tende a concentrar-se. O acto I envolve um espaço aberto, com amplas janelas, luz, decorado e comunica com o exterior, o que se relaciona com alguma felicidade que se vive naquele lugar.

            O ato II decorre num espaço mais fechado, mais sombrio e melancólico. Não tem janelas e as portas têm reposteiros, há grandes retratos de família, lembrando o passado. É aqui que vai chegar o Romeiro.

            No ato III, o espaço ainda é mais fechado e subterrâneo, não há janelas e há pouca portas. Não há decoração. Na capela não há decoração, há apenas um altar e uma cruz, símbolos de sacrifício e de morte.

            Em suma pode dizer-se que, à medida que a ação avança e se torna mais trágica, o espaço é mais fechado e opressivo e aniquilador das personagens.

Frei Luís de Sousa- Personagens


Madalena de Vilhena

É uma heroína romântica, vive marcada por conflitos interiores e pelo passado.
Os sentimentos e a sensibilidade sobrepõe-se à razão e é uma mulher em constante sofrimento.
Crê em agoiros, superstições e dias fatais (a sexta-feira).
É uma sofredora, tem um amor intenso e uma preocupação constante com a filha Maria, contudo coloca a cima de tudo a sua felicidade e amor ao lado de Manuel  de Sousa.
Mesmo o seu amor à pátria é menor do que o que sente por Manuel.

Manuel de Sousa Coutinho

É o típico herói clássico, dominado pela razão, que se orienta por valores universais, como a honra, a lealdade, a liberdade;
É um patriota, um português às direitas, forte, corajoso e decidido (o incêndio).
Bom marido, pai terno, não sente ciúmes do passado e não crê em agoiros.


Maria de Noronha

É a mulher-anjo dos românticos (fisicamente é fraca e frágil; psicologicamente é muito forte).
Nobre, de inteligência precoce, é muito culta, intuitiva e perspicaz. Muito curiosa, quer saber tudo... É uma romântica: é nacionalista, idealista, sonhadora, fantasiosa, patriota, crente em agoiros e uma sebastianista.

   
D. João de Portugal

 Nobre cavaleiro, está ausente fisicamente durante o I e o II actos da peça. Contudo, está sempre presente na memória e palavras de Telmo, na consciência de Madalena, nas palavras de Manuel e na intuição de Maria.(é um espectro; um fantasma).
            É sempre lembrado como patriota, digno, honrado, forte, fiel ao seu rei; quando regressa, na pele do Romeiro é austero e misterioso, representa um destino cruel, é implacável, destrói uma família e a sua felicidade, mas acaba por ser, também ele, vitima desse destino. Resta-lhe então a solidão, o vazio e a certeza de que ele já só faz parte do mundo dos mortos (é “ninguém”; Madalena não o reconhece; Telmo preferia que ele não tivesse voltado, pois Maria ocupou o seu lugar no coração do velho escudeiro).
            D. João é uma figura simbólica: representa o passado, a época gloriosa dos descobrimentos; representa também o presente, a pátria morta e sem identidade na mão dos espanhóis  e é a imagem da pátria cativa.


Telmo Pais

É o velho aio.
É o confidente de Madalena e de Maria.
Fiel, dedicado, é o elo e ligação entre as duas famílias (os dois maridos de Madalena).
É a chama viva do passado que alimenta os terrores de Madalena.
É muito crítico, cria juízos de valor.
Vive num profundo conflito interior, pois sente-se dividido entre D, João e Maria, não sabendo o que fazer.
É um sebastianista e sofre muito pela sua lealdade.


Frei Jorge

Irmão de Manuel de Sousa, representa a autoridade de Igreja.
É também confidente de Madalena, pois é a ele que ela confessa o seu "pecado": amou Manuel de Sousa ainda D. João era vivo.
É um uma figura moderadora, que procura harmonizar o conflito, modera os sentimentos trágicos. Acompanha sempre a família, é conciliador, pacificador e impõe uma certa racionalidade, procurando manter o equilíbrio no meio de uma família angustiada e desfeita.

Frei Luís de Sousa- Alguns Apontamentos

 Primeiro ato - decorre no palácio de D. Manuel de Sousa Coutinho

- O ambiente leve e exótico revela o estado de espírito da família (feliz no geral);
- Inicia-se um acto com um excerto d’Os Lusíadas, mas precisamente o excerto de
Inês de Castro, em que afirma que o amor cega e condena a alma ao sofrimento;
este excerto é lido por D. Madalena de Vilhena, mulher de Manuel de Sousa
Coutinho;

- Telmo, o fiel escudeiro da família, entra em cena e ambos discutem sobre Maria,
filha de D.Madalena e Manuel de Sousa Coutinho;

- Os medos de D.Madalena em relação ao regresso do ex-marido (D.João de
Portugal, que nunca regressou da batalha de Alcácer-Quibir) reflectem-se na
protecção da sua filha em relação ao Sebastianismo (se D.Sebastião voltasse, o
seu ex-marido também podia), um tema na altura muito discutido;

- Maria é considerada muito frágil (doente; possui tuberculose não diagnosticada),
e Telmo, que já fora escudeiro de D. João, incentiva-a a acreditar no
Sebastianismo, o que ela abraça fortemente apesar do o desaprovar sua mãe;

- Por fim chega com D. Manuel, um cavaleiro da nobreza, que informa as
personagens da necessidade de movimentação daquela casa, porque os
“governantes” (na altura Portugal estava sob o domínio espanhol) viriam e
desejavam instalar-se em sua casa;

- O acto acaba com D. Manuel a incendiar a sua própria casa, como símbolo de
patriotismo, incendiando também um retrato seu (simboliza o inicio da
destruição da família), movendo-se a família para o palácio de D. João de
Portugal (apesar dos agouros de D. Madalena).

 Segundo Acto - decorre no palácio de D. João de Portugal

- O ambiente fechado, sem janelas, com os quadros grandes das figuras de D.
João, Camões e D. Sebastião revelam uma presença indesejada e uma família
mais abatida (algo está para vir);

- D. Madalena apresenta-se muito fraca; com a chegada de D. Manuel (que teve de
fugir devido à afronta aos governantes) e a indicação de que estes o tinham perdoado, D. Madalena fica mais descansada, mas ao saber por Frei Jorge, um
frei do convento dos Domínicos, que este terá que partir para Lisboa para se
apresentar, fica de novo desassossegada;

- D. Manuel parte para Lisboa na companhia de Maria e Telmo, deixando em casa
D. Madalena e Frei Jorge;

- Aparece um Romeiro que não se quer identificar ao princípio, mas dá indícios
de ser D. João de Portugal, que voltaria exactamente 21 anos depois da batalha de
Alcácer-Quibir (7 para procurar o corpo + 14 casamento de D. Madalena e D.
Manuel);