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domingo, 6 de janeiro de 2019

Rap do Frei Luís de Sousa

I
Era uma vez uma família, bem organizada:
Pai, mãe, filha e criado, feliz
Que morava num palacete em Almada.

II
Ela, Madalena, tinha um receio
Qu’o primeiro marido regressasse d’Álcáçer Quibir
E lhe estragasse o enleio.

III
D. João de Portugal era o nome que temia,
Pois de quem gostava mesmo
Era do Manuel e sua filha Maria.

IV
O criado Telmo não a fazia esquecer.
Amava o seu amo, D. João,
E alimentava a ilusão de o  tornar a ver.

V
Entre medos e terrores, lá vivia o dia a dia.
Com agoiros e presságios, rodeada dos amores…
Era feliz por um lado, mas pelo outro sofria.

VI
Nesta altura Portugal estava entregue aos espanhóis.
Manuel era patriota e o seu maior desejo
Era mandá-los a todos pastar caracóis.

VII
Quando alguns deles quiseram hospedar-se em sua casa,
Preferiu incendiá-la, transformou-a numa brasa.

VIII
Então foram habitar o antigo palacete
De D. João de Portugal,
O marido ausente.

IX
Vivo ou morto, onde estaria
Ao final de tantos anos?
E se ele regressasse e lhe estragasse os planos?

X
Mas um dia disfarçado de romeiro
Ele lá voltou. Esteve no cativeiro,
Em Jerusalém, mas lá ele não ficou.

XI
Ao regressar, D. João destruiu a união d’uma família feliz.
O casal foi p’ró convento
E algo de muito mau aconteceu à petiz.

XII
Maria, esta filha muito amada,
Foi a sua maior vítima.
Ficou sem o pai e a mãe, e tornou-se ilegítima.

XIII
Ao ver-se desamparada e já sem ninguém no mundo,
Morre bem envergonhada, num sofrimento profundo.

XIV
Assim acaba esta história de triste memória.
Manuel é Frei Luís de Sousa,
E não sei se mal ou bem,
Romeiro, quem és tu?
Eu sou ninguém, ninguém, ninguém…