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quarta-feira, 21 de maio de 2025

 

Correção do Teste/Cenários de Resposta

Amor de Perdição e Farsa de Inês Pereira

1. Antes de se apaixonar por Teresa, Simão era um jovem rebelde, mau estudante, defensor dos ideais da revolução, violento nas suas ações. Este comportamento é visível no primeiro parágrafo do excerto: (“ferveu-lhe o sangue na cabeça”; teve tentações de matar”; “raivas e projetos de vingança”).

Após conhecer o amor, torna-se um homem diferente, e “a mudança do estudante maravilhou a academia”. Tornou-se sensato, “estudava com fervor”,  sendo o melhor da Academia.

Estas características contribuem para a construção do herói romântico, pois este é um ser repleto de contrastes, individualista, que luta contra as convenções que lhe são impostas, mas também nobre de caráter, possuidor de valores e um lutador na defesa dos seus ideais.

2. O bilhete que Teresa envia a Simão tem, entre outras, as funções de:

− estabelecer contacto com o seu amado;

− transmitir a Simão as últimas notícias, pondo o jovem ao corrente da decisão do pai dela de a encerrar num convento;

− confirmar o amor e a fidelidade recíprocos;

− esclarecer Simão sobre a forma de comunicarem, de trocarem cartas de amor;

− manifestar confiança na força da sua relação amorosa, apesar das dificuldades enfrentadas.

 

3. Quanto à presença, o narrador é heterodiegético, pois limita-se a narrar os acontecimentos, não fazendo parte deles como personagem, conforme se pode constatar  no excerto . Não obstante, assume uma posição subjetiva, pois revela -se parcial, ao mostrar a sua concordância com Simão, avaliando como sensata a decisão do jovem de partir para Coimbra (esperando “lá notícias de Teresa, e vir a ocultas [...] falar com ela» – l. 11): “Ajuizadamente discorrera ele que a sua demora agravaria a situação de Teresa.” (ll. 11 e 12).

 

4. A morte é um elemento presente tanto em Frei Luís de Sousa como em Amor de Perdição.

Um aspeto comum às duas obras é a presença de um herói romântico (D. Manuel em Frei Luís de Sousa e Simão em Amor de Perdição). Uma das características do herói romântico é a morte espiritual ou física.

Em ambas as obras, existe uma crise onde não existe saída aparente. As personagens são condicionados pelas regras impostas pela sociedade. A morte, para eles, acaba por ser a única solução encontrada. Para as personagens que desafiam as convenções sociais, a morte acaba por ser a solução encontrada para os conflitos entre o indivíduo e a sociedade.

A morte é também vista como uma libertação. Teresa e Simão, já no céu, poder-se-ão amar livremente, sem constrangimentos ou proibições: “(...) ou no céu (...) leal”- ll.20.  Maria, de Frei Luís de Sousa, alcançou a “coroa de glória”, pois esta “não se dá senão no céu”.

Concluímos, assim, que a morte nas obras românticas não é um fim e sim uma saída para solucionar conflitos e alcançar a felicidade.

 

5.  Nestas duas obras, conseguimos identificar duas personagens radicalmente opostas, Mariana e Inês Pereira.

    Primeiramente, Mariana é uma mulher com caráter nobre que se apaixona verdadeiramente por Simão, estando disposta a tudo por ele. É uma personagem generosa e empática, que se preocupa com o outro. Podemos comprovar através da forma como protegeu sempre Simão, ajudando com dinheiro, sendo mensageira de Teresa e dele, culminando com o seu suicídio por amor sincero e puro.

    Inversamente, Inês Pereira não se importa minimamente com o seu parceiro, procurando um casamento para  ascender socialmente e se libertar das tarefas domésticas em casa de sua mãe. Demonstra ser oportunista e calculista, quando casa com Pêro Marques, porque quer  ser livre, não se preocupando com o seu parceiro, aproveitando-se da sua ingenuidade e bondade. Além disso, podemos destacar a reação oposta que tiveram quando um membro do clero as tentou seduzir. Enquanto Mariana ignora e repreende esta devassidão do clero, Inês Pereira cai na tentação e comete adultério.

   Assim, estas personagens veem e sentem o amor de forma diferente, mostrando que Mariana é nobre de caráter, opondo-se à corrupção do clero, ao contrário de Inês Pereira, que apenas se preocupa com os seus próprios interesses.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Influências na poesia de Cesário Verde

 

           

      O Parnasianismo 

           Teoria da arte pela arte, do culto da musicalidade e do trabalho escultórico da língua.





         Surrealismo

 

    Movimento artístico, literário e cinematográfico que se desenvolveu a partir do dadaísmo por volta de 1922. Chefiados por André Breton, que apresentou o Manifesto Surrealista (1924), os surrealistas   procuraram formas de expressão imediatistas, comandadas por visões do subconsciente. Exploraram   variados estilos e técnicas, e o movimento tornou‑se na força dominante na arte ocidental entre as duas       grandes guerras mundiais.

      O surrealismo seguiu a teoria freudiana do inconsciente e a sua técnica de «associação livre», de modo a    iludir o controlo do consciente. Exemplo são as imagens oníricas pintadas num estilo realista (Salvador Dalí, René Magritte). Picasso trabalhou numa orientação surrealista durante algum tempo, no início dos anos  20. 

  Os poetas Louis Aragon e Paul Éluard fizeram também parte do movimento, bem como o realizador 

  Luis Buñuel.

 


   Simbolismo

                              

Movimento literário e artístico iniciado em França na segunda metade do séc.XIX e que constitui uma reacção contra o realismo.

Os simbolistas de então procuraram representar a vida mediante o emprego de símbolos e imagens. Os principais dirigentes deste movimento foram Baudelaire, Rimbaud e Verlaine. O grande poeta desta corrente (publicado apenas em 1922) foi Camilo Pessanha, com o volume Clepsidra, que primou no trabalho, tipicamente simbolista, da musicalidade da língua e da surpresa das imagens inesperadas.Cesário Verde é um nome associado também ao realismo e ao parnasianismo, pelo seu trabalho em verso. Editado apenas em 1901 (O Livro de Cesário Verde), foi dos poetas que mais contribuíram para o arejamento e a renovação dos recursos e da linguagem tradicionais da lírica portuguesa.

 

 

                                                           

 

 

Hipálage e Sinestesia

 

   Hipálage

 

Figura da linguagem que consiste em empregar, em relação a uma palavra de uma frase um atributo que conviria melhor a outra.

EX: o estridor toscano da trombeta ( Vergílio )

 

 

 

Sinestesia

 

 

Uma experiência sensorial que resulta do estímulo de um outro sentido; por exemplo, da audição de um som pode resultar uma experiência cromática. Aproximadamente uma pessoa em 25000 apresentam a capacidade de experimentar esta situação, sendo habitualmente do sexo feminino. A forma mais habitual de sinestesia consiste em sentir as palavras como cores. Alguns sinestésicos sentem sons como cores ou formas e sabores como formas, não se conhecendo actualmente as razões pelas quais isso acontece.

Esta experiência é por vezes imitada nas artes. O poeta Baudelaire usou a expressão «fanfarra escarlate»

 

 



Características da poesia de Cesário Verde

 

Cesário Verde disse um dia, em carta enviada ao seu amigo Silva Pinto :

                              A mim o que me rodeia é o que me preocupa.”

 

Duma fase romântica, em que se manifesta um gosto acentuado pela paisagem campestre, o poeta evolui no sentido do social, da procura da justiça e da solidariedade, deambulando pelas ruas de Lisboa e sofrendo com os dramas da sua gente simples e humilde.

 

Identificando a visão plástica, de aguarelista, com a visão do poeta, fiel, por outro lado, à estética do positivo e do sincero, Cesário superou o naturalismo, isto é, a pretensão da estrita objetividade. O estilo de Cesário traduz, por vezes, uma atitude impressionista, em que avulta uma sensação inicial, só depois referida ao objeto(“amareladamente, os cães parecem lobos”), ou então se combinam sensações e se misturam o físico e o moral  (“Ombros em pé, medrosa e fina...”).

A obra de Cesário Verde, pelas múltiplas influências que nela se cruzam, é o ponto de encontro de várias correntes que eram ou haviam de ser importantes na cultura portuguesa:

 

_ Realismo                                  _Parnasianismo

_Impressionismo                        _Simbolismo

_Surrealismo                              _Neo-realismo

 

Oposição Cidade/Campo

     O tempo-espaço inicialmente definido nos poemas de Cesário é a cidade, a realidade presente que, ao ser contrastada com a metáfora antinómica representada pelo campo, é definida como confinadora e destrutiva.

     Ao nível pessoal a cidade representa a ausência, a impossibilidade ou a perversão do amor.

    Ao nível social, a cidade significa opressão, fechamento, doença e morte; o campo a possibilidade do exercício da liberdade, saúde e vida.


  A IMAGÉTICA FEMININA  

Cesário ama a distanciação, o afastamento. Assim ela passa, vagueia, é entrevista no luxo de uma carruagem veloz. Isso permite-lhe avaliá-la na plástica dos seus sentimentos, na imponência que pode seduzi-lo, no luxo de sedas e veludos que a distinguem, na soberbia do carro que a transporta.


O poeta depara com dois tipos de mulher que estão articulados com os dois locais em que se movimentam. Assim, tal como a cidade se associa à fatalidade, à morte, à destruição, à falsidade, também a mulher citadina é apresentada como frívola, calculista, dominadora, destrutiva, sem sentimentos. O erotismo da mulher fatal é humilhante, conseguindo reduzir o amante à situação de presa fácil.

     Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino que é o oposto. É frágil, terna, ingénua, despretensiosa, mesmo que enquadrada na cidade. Desperta no poeta o sentimento de protecção, mas não o de se prostrar aos seus pés.

     Há pois dois tipos de mulher na poesia de Cesário: mulher fatal / mulher angélica, associadas à morte e à vida, à cidade e ao campo, respetivamente.

Cesário Visto pelos Outros Poetas

 

Quis dizer o mais claro e o mais corrente Em fala chã e em lúcida esquadria Ser e dizer na justa luz do dia Falar claro falar limpo falar rente Porém nas roucas ruas da cidade A nítida pupila se alucina Cães se miram no vidro da retina E ele vai naufragando como um barco Amou vinhas e searas campinas Horizontes honestos e lavados Mas bebeu a cidade a longos tragos Deambulou por praças por esquinas Fugiu da peste e da melancolia Livre se quis e não servo dos fados Diurno se quis - porém a luzidia Noite assombrou os olhos dilatados Refletindo o tremor da luz nas margens Entre ruelas vê-se ao fundo o rio Ele o viu com seus olhos de navio Atentos à surpresa das imagens
Fernando Pessoa (heterónimo Alberto Caeiro)

Ao entardecer, debruçado pela janela,

E sabendo de soslaio que há campos em frente.

Leio até me arderem os olhos

O livro de Cesário Verde.

 

Que pena que tenho dele! Ele era um camponês

Que andava preso em liberdade pela cidade.

Mas o modo como olhava para as casas,

E o modo como reparava nas ruas,

E a maneira como dava pelas coisas,

É o de quem olha para árvores,

E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando

E anda a reparar nas flores que há pelos campos...

 

Por isso ele tinha aquela grande tristeza

Que ele nunca disse bem que tinha,

Mas andava na cidade como quem anda no campo

E triste como esmagar flores em livros

E pôr plantas em jarros...


                                

 


Retrato de uma Princesa Desconhecida


Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino


Sophia de Mello Breyner Andresen