1. O espaço que se revela, quando uma cortina se afasta, é o de
uma igreja que comunica com o palácio; nele encontramos vários
religiosos, além de paramentos litúrgicos. As personagens
passam, assim, do espaço profano ao sagrado.
2. A expressão do Prior refere-se ao facto de Manuel e
D. Madalena estarem prestes a abdicar da vida que tinham,
dos seus bens e títulos, para ingressarem em ordens
religiosas. Mudarão de nome e abandonarão a existência
profana para professarem.
3. O ambiente da cena X tem a solenidade e a serenidade que
se espera de uma cerimónia religiosa: a música do órgão e os
cânticos contribuem para essa gravidade. A entrada tempestuosa
de Maria em cena vem perturbar a calma que se vivia e que
se transforma em «confusão geral».
4.1 Maria tenta demover os pais da resolução extrema que estão
a tomar («levantai-vos, vinde», l. 19), dirigindo a sua dolorosa
revolta contra a falta de humanidade de um Deus que lhe rouba
os seus legítimos pais («Que Deus é esse que […] quer roubar
o pai e a mãe a sua filha?», l. 25). Desafia as normas dominantes,
ao pedir aos pais que mintam, afirmando não se importar «com
o outro» (l. 27), que veio dizer que ela era «filha do crime e do
pecado» (ll. 40-41). Em suma, para Maria, o valor da família é
superior aos valores sociais e religiosos, contra os quais dirige
todo o seu discurso.
5.1 Maria revela à mãe o conteúdo das visões que a não
deixavam dormir: o anjo que surgia com uma espada em
chamas na mão e a atravessava entre ela e a mãe. A espada
atravessada entre a família indicia a separação, e o facto de
estar em chamas, significa a destruição.
6. O Romeiro, ao ver o sofrimento que causou naquela família
e a desgraça que se aproxima, pede a Telmo que intervenha
para «salvar» Maria e os seus pais. Revelando nobres
sentimentos, D. João, que antes ansiava por vingança,
arrepende-se e quer agora que a tragédia não se abata sobre a
nova família de D. Madalena.
7.1 Em Frei Luís de Sousa, assistimos a «um duplo e tremendo
suicídio», quando Manuel de Sousa Coutinho e D. Madalena
decidem abandonar voluntariamente o mundo profano
(«morte» para o mundo), para se entregarem à religião,
procurando deste modo restabelecer a ordem divina.