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terça-feira, 22 de outubro de 2024

Excerto CAP.III

      Pudera-se fazer problema: onde há mais pescadores e mais modos e traças, de pescar, se no mar ou na terra? E é certo que na terra. Não quero discorrer por eles, ainda que fora grande consolação para os peixes; baste fazer a comparação com a cana, pois é o instrumento do nosso caso. No mar, pescam-se as canas, na terra pescam as varas (e tanta sorte de varas); pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam, e pescam mais que todos, porque pescam cidades e reinos inteiros. Pois é possível que pescando os homens cousas de tanto peso, lhes não trema a mão e o braço?! 

Cap. III do Sermão de Santo António aos Peixes



Paralelismo anafórico -  Pescar simbólico: “ No mar, pescam as canas, na terra pescam as varas (…), pescam as ginetas, pescam as bengalas, pescam os bastões e até os cetros pescam, e pescam mais que todos, porque pescam Cidades e Reinos inteiros.”

Gradação crescente ou ascendente- Varas - juízes / ginetas -militares / bengalas - comerciantes / bastões - nobres / cetros - reis.

 O Torpedo faz tremer o braço do pescador devido a uma descarga elétrica. Na terra, os juízes, os militares, os comerciantes, os nobres e os reis (isto é, todos)“pescam” muito, usurpam/tiram proveito dos outros, mas não “tremem”, ou seja, não manifestam qualquer arrependimento, logo não dão indícios de pretenderem converter-se.