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domingo, 26 de janeiro de 2025

Rap Frei Luís de Sousa

 

                    Rap Frei Luís de Sousa 

I

Era uma vez uma família, bem organizada:

Pai, mãe, filha e criado, feliz

Que morava num palacete em Almada.

 

II

Ela, Madalena, tinha um receio

Qu’o primeiro marido regressasse d’Álcaçer Quibir

E lhe estragasse o enleio.

 

III

D.João de Portugal era o nome que temia,

Pois de quem gostava mesmo

Era do Manuel e sua filha Maria.

 

IV

O criado Telmo não a fazia esquecer.

Amava o seu amo, D.João,

E alimentava a ilusão d’o tornar a ver.

 

V

Entre medos e terrores, lá vivia o dia a dia.

Com agoiros e presságios, rodeada dos amores…

Era feliz por um lado, mas pelo outro sofria.

 

VI

Nesta altura Portugal estava entregue aos espanhóis.

Manuel era patriota e o seu maior desejo

Era mandá-los a todos pastar caracóis.

 

VII

Quando alguns deles quiseram hospedar-se em sua casa,

Preferiu incendiá-la, transformou-a numa brasa.

 

VIII

Então foram habitar o antigo palacete

De D. João de Portugal,

O marido ausente.

 

IX

Vivo ou morto, onde estaria

Ao final de tantos anos?

E se ele regressasse e lhe estragasse os planos?

 

X

Mas um dia disfarçado de romeiro

Ele lá voltou. Esteve no cativeiro,

Em Jerusalém, mas lá ele não ficou.

 

XI

Ao regressar, D. João destruiu a união d’uma família feliz.

O casal foi p’ró convento

E algo de muito mau aconteceu à petiz.

 

XII

Maria, esta filha muito amada,

Foi a sua maior vítima.

Ficou sem o pai e a mãe, e tornou-se ilegítima.

 

XIII

Ao ver-se desamparada e já sem ninguém no mundo,

Morre bem envergonhada, num sofrimento profundo.

 

XIV

Assim acaba esta história de triste memória.

Manuel é Frei Luís de Sousa,

E não sei se mal ou bem,

Romeiro, quem és tu?

Eu sou ninguém, ninguém, ninguém…