Rap
Frei Luís de Sousa
Era
uma vez uma família, bem organizada:
Pai,
mãe, filha e criado, feliz
Que
morava num palacete em Almada.
II
Ela,
Madalena, tinha um receio
Qu’o
primeiro marido regressasse d’Álcaçer Quibir
E
lhe estragasse o enleio.
III
D.João
de Portugal era o nome que temia,
Pois
de quem gostava mesmo
Era
do Manuel e sua filha Maria.
IV
O
criado Telmo não a fazia esquecer.
Amava
o seu amo, D.João,
E
alimentava a ilusão d’o tornar a ver.
V
Entre
medos e terrores, lá vivia o dia a dia.
Com
agoiros e presságios, rodeada dos amores…
Era
feliz por um lado, mas pelo outro sofria.
VI
Nesta
altura Portugal estava entregue aos espanhóis.
Manuel
era patriota e o seu maior desejo
Era
mandá-los a todos pastar caracóis.
VII
Quando
alguns deles quiseram hospedar-se em sua casa,
Preferiu
incendiá-la, transformou-a numa brasa.
VIII
Então
foram habitar o antigo palacete
De
D. João de Portugal,
O
marido ausente.
IX
Vivo
ou morto, onde estaria
Ao
final de tantos anos?
E
se ele regressasse e lhe estragasse os planos?
X
Mas
um dia disfarçado de romeiro
Ele
lá voltou. Esteve no cativeiro,
Em
Jerusalém, mas lá ele não ficou.
XI
Ao
regressar, D. João destruiu a união d’uma família feliz.
O
casal foi p’ró convento
E
algo de muito mau aconteceu à petiz.
XII
Maria,
esta filha muito amada,
Foi
a sua maior vítima.
Ficou
sem o pai e a mãe, e tornou-se ilegítima.
XIII
Ao
ver-se desamparada e já sem ninguém no mundo,
Morre
bem envergonhada, num sofrimento profundo.
XIV
Assim
acaba esta história de triste memória.
Manuel
é Frei Luís de Sousa,
E
não sei se mal ou bem,
Romeiro,
quem és tu?
Eu
sou ninguém, ninguém, ninguém…