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sábado, 6 de dezembro de 2014

Padre António Vieira


O padre António Vieira é um expoente da língua portuguesa do qual, várias vezes, se tentou reunir toda a vasta obra. Esta, finalmente, está disponível, cumprindo-se assim o objetivo primeiro da equipa internacional de 52 peritos liderada por José Eduardo Franco e Pedro Calafate. "Esta coleção destina-se ao grande público", dizia José Eduardo Franco, quando se começou a publicar a obra de Vieira em abril do ano passado. "O nosso maior objetivo é democratizar o Padre António Vieira, cujos textos devem poder chegar a toda a gente." São trinta volumes, quinze mil páginas em que podemos contactar de novo com o pensamento e o vigor da linguagem do sacerdote, do missionário, do pregador régio, do diplomata e, sobretudo, o defensor dos oprimidos. O "padre António Vieira era um universalista que, além de nos ensinar a tolerância e a inclusão, lutou contra a segregação e a opressão", sublinhou José Eduardo Franco na apresentação da obra. Denunciou as injustiças do seu tempo, lutando pela abolição da escravatura sem se acobardar diante dos poderosos que enriqueciam à sua custa. Atreveu-se mesmo a afrontar a Inquisição, acusando-a de sufocar o país pelo medo – e só escapou às suas garras graças à proteção de D. João IV. Após o falecimento do rei, valeu-lhe o Papa, de quem conseguiu a anulação da sentença da Inquisição que o tinha condenado em 1967 e lhe concedeu a imunidade perante qualquer tribunal, ficando apenas dependente do Tribunal Romano. Apesar de muitas das iniquidades denunciadas pelo padre António Vieira se terem entretanto mitigado, as suas palavras continuam, infelizmente, atuais. Ontem como hoje, o peixe graúdo continua a alimentar-se do miúdo, com a complacência e insensibilidade da generalidade das pessoas. Os príncipes, "em vez de guardarem os povos como pastores", continuam a roubá-los "como lobos", mantendo-se atualíssimas as palavras do Sermão do Bom Ladrão, proferido em 1655 na Igreja da Misericórdia, em Lisboa. Quase quatrocentos anos depois, é um outro jesuíta que nos nossos dias ergue a sua voz para defender os oprimidos e explorados do nosso tempo: o Papa Francisco. Ambos são vozes incómodas que muitos tentam silenciar. Mas a sua obra permanecerá.

FERNANDO CALADO RODRIGUES


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

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Cavalo Marinho

O cavalo marinho é um peixe relativamente pequeno. Possui olhos que se movimentam de forma interdependente um do outro, boca pequena e situada na extremidade de um focinho tubular, a partir do qual se alimenta. É um animal de hábitos solitários, quando se sente ameaçado permanece imóvel agarrado a algas ou corais, o seu habitat, alterando a sua cor de forma a confundir-se com o meio envolvente. Move-se na vertical, contrariamente à maioria dos outros peixes, tornando-se por isso num nadador lento. No entanto, tem a capacidade de emergir ou mergulhar rapidamente.
Posso de certa forma associar-me a este peixe devido a todas as características naturais do mesmo. Assim como o cavalo marinho, sou eu também fisicamente pequena. Os olhos que se movimentam de forma interdependente um do outro tem que ver com a minha capacidade de estar atenta a mais do que uma situação; embora me concentre em mim mesma e na minha vida, nunca deixo de estar atenta e preocupada com as pessoas que me rodeiam. Sou demasiado reservada no que toca ao que penso e ao que sinto, tenho por isso “boca pequena”, assim como o cavalo marinho. Tenho também “hábitos solitários”, isto é, em alguma situação adversa isolo-me, mantenho-me na minha zona de conforto, na qual tento passar despercebida e não chamar a atenção, é por isso a minha forma de me proteger. Sou uma pessoa muito calma e pacífica, tal como a forma de o cavalo marinho se deslocar: de forma lenta. No entanto, apesar desta calma que me caracteriza, sou muitas vezes impulsiva em termos do que digo, falo sem pensar, assim como o cavalo marinho que emerge ou mergulha rapidamente. Esta sua característica tem também que ver com as minhas rápidas mudanças de humor: tanto estou em alta a rir, como rapidamente afundo e fico triste e pensativa.

Carta ao Padre António Vieira

José Bastos
Travessa dos Bastos, Casal do Azemel,
Batalha
PORTUGAL

                                                                                                             Padre António Vieira
                                                     São Luís do Maranhão
                                                      Brasil


                                                                                                  Batalha, 28 de outubro de 2014


       Reverendo Senhor Padre António Vieira,    

       Venho por este meio dar a conhecer a Vossa Reverendíssima os vícios e defeitos da sociedade contemporânea na qual estou inserido.
Para dizer a verdade, confesso que a humanidade em geral continua a apresentar, de certa forma, os mesmos defeitos que na época de Vossa Reverendíssima, contudo numa versão mais moderna.             Atualmente, continuamos a assistir à “Autofagia Social”, os mais ricos e poderosos continuam a explorar incessantemente os menos capazes, os mais fracos. A guerra tornou-se num negócio em que as principais potências mundiais e os grandes produtores de armas se aliam para enviar os indefesos cidadãos  para a morte certa, iludidos que estão a salvar ou defender alguém. As crises que afetam uma nação em particular, espalham-se como uma epidemia para todo o mundo, porque o “sal” continua a “não” salgar a terra e a corrupção domina. Os homens continuam a não se respeitarem uns aos outros e a não respeitar a diferença. Na sociedade predomina o preconceito e o estereótipo. A ignorância, ganância, vaidade e cegueira ainda caraterizam a humanidade e temo mesmo que assim seja para todo o sempre, visto nunca ter mudado até ao momento.

Desde já agradeço a atenção disponibilizada.
Subscrevo-me respeitosamente,

José Bastos






quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Carta ao Padre António Vieira



Xavier Pedro Henriques
Rua de S. António, 13, R/C
244-1654, LEIRIA
PORTUGAL                                                                                                                                     
                    
Rvmo. Pe.    António Vieira
                                                                                                                    65010  SÃO LUÍS
Estado do Maranhão
                                                                                                                                                                         BRASIL


                                                                          

                                                                                       Leiria, 27 de outubro de 2014


Reverendo Senhor Padre,

Venho por este meio fazer chegar a V. Rvma.  informação acerca dos vícios e defeitos da sociedade contemporânea.
Como bem sabeis, o Homem sempre preferiu satisfazer os seus apetites do que servir a Cristo e, pela mesma razão é que a Terra ainda  não se deixa salgar. É certo que muitas vezes, ainda mais agora no meu tempo, existem cada vez mais provas do contrário, que o sal não salga, padres que preferem pregar como lhes apetece, servindo os seus interesses, e que não praticam ou seguem a doutrina de Cristo. O Homem não muda, é o que deveis estar a pensar, mas muita coisa tenho  feito no sentido de reaver aquele Homem culto que servia e adorava a Cristo, louvando-O e seguindo os Seus ensinamentos. Mesmo assim, o Homem continua a não escutar a palavra de Deus, a não seguir os Seus bons exemplos e a não aprender com os mesmos. Além disso, continuam cegos, ou porque não querem ver, ou porque não os deixam ver. Precisam de abrir as entranhas destes novos pregadores e ver o seu coração ainda puro, mas já cansado de proferir ensinamentos que ninguém põe em prática. Quem vai à santa missa, ou é porque está doente, ou é para visitar os amigos, ou é porque quer mostrar a todos as suas novas vestes.
Já ninguém sabe o que é a fé, o que é o amor. Apenas lhes interessa meras atrações, dinheiro e uma vida repleta de prazer, viagens e negócios. Além do mais, nem têm tempo, pois passam a vida num correr de um lado para o outro, num andar de praça em praça, num subir e descer, numa tentativa de fazerem tudo sem nada fazerem. “Quem tudo quer tudo perde”, mas enquanto uns têm e nada têm, outros nada têm e tudo têm. Isto tudo porque o dinheiro é um mero material ao qual nós, homens, nos prendemos, e porque o amor e a fé são aquilo que realmente importa. Pois, como já deveis ter percebido, os homens continuam a comer-se uns aos outros, e mais do que isso, os grandes comem os pequenos. Quem é rico, mais rico fica, e quem é pobre, mais pobre fica. O mesmo podemos dizer dos fracos e inocentes, que são comidos todos os dias, tal como é o pão comido todos os dias pelos pobres.
Concluindo, o Homem continua  igual ao Homem para quem vós pregastes o sermão naquele dia 13 de junho de 1654, na cidade de São Luís do Maranhão.
Peço-vos que abençoeis estes novos pregadores, para que se abram ao auditório, para que o mesmo veja os novos corações.
Antecipadamente grato pela atenção,
apresento os meus mais respeitosos cumprimentos.

Xavier Henriques

Num texto bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, apresenta uma reflexão sobre
O estado da sociedade portuguesa na atualidade.

     A tese apresentada remete para a crença num estado de incerteza e de cansaço num país financeira e emocionalmente desgastado.
     Por um lado, perante as dificuldades económicas e a situação de crise continuamente posta em relevo pelos meios de comunicação social e pelo poder político, os portugueses sentem-se abatidos e emocionalmente exaustos. Com o aumento do desemprego e a constante subida de preços, frequentemente se refugiam em queixumes e na crítica a aspetos menos bem conseguidos da governação nacional, gerando controvérsias e confrontos entre diferentes pontos de vista acerca das mesmas medidas políticas. Veja-se, por exemplo, o caso dos cortes nos vencimentos dos funcionários públicos, sobre o qual se pronunciaram várias personalidades, grupos e cidadãos anónimos, nem sempre expressando o mesmo ponto de vista.
     Por outro lado, os portugueses sentem que as energias que investem no bem-estar e progresso da sociedade, com o contributo do seu trabalho e dos seus impostos, nem sempre são reconhecidas como desejariam. Assim, não deixam de expressar a sua insatisfação e o seu desagrado, utilizando os meios que têm à sua disposição. Entre outros, fazem-no através de cartas às entidades competentes, cartas-abertas divulgadas nos media, petições dirigidas a organismos nacionais ou internacionais e que ganham enorme divulgação e visibilidade quando circulam na internet. A rua tornou-se também um lugar de protesto, porque palco de inúmeras manifestações levadas a cabo por grupos das mais variadas proveniências políticas e profissionais.
Em suma, a sociedade portuguesa, perante o ambiente de pessimismo decorrente da conjuntura atual, busca novas formas de expressão dos sentimentos da população, a fim de se fazer ouvir, dando mostras de uma maior reflexão sobre as suas condições de vida.          
                                                                                                                              (274 palavras)

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Discurso político


Discurso Político

Sei que para muitos de vocês hoje é o primeiro dia de aulas, e para os que entraram para o jardim infantil, para a escola primária ou secundária, é o primeiro dia numa nova escola, por isso é compreensível que estejam um pouco nervosos.
Também deve haver alguns alunos mais velhos, contentes por saberem que já só lhes falta um ano. Mas, estejam em que ano estiverem, muitos devem ter pena por as férias de Verão terem acabado e já não poderem ficar até mais tarde na cama.

Também conheço essa sensação. Quando era miúdo, a minha família viveu alguns anos na Indonésia e a minha mãe não tinha dinheiro para me mandar para a escola onde andavam os outros miúdos americanos. Foi por isso que ela decidiu dar-me ela própria umas lições extras, segunda a sexta-feira, às 4h30 da manhã.

A ideia de me levantar àquela hora não me agradava por aí além. Adormeci muitas vezes sentado à mesa da cozinha. Mas quando eu me queixava a minha mãe respondia-me: "Olha que isto para mim também não é pêra doce, meu malandro..."

Tenho consciência de que alguns de vocês ainda estão a adaptar-se ao regresso às aulas, mas hoje estou aqui porque tenho um assunto importante a discutir convosco. Quero falar convosco da vossa educação e daquilo que se espera de vocês neste novo ano escolar.

Já fiz muitos discursos sobre educação, e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos professores de vos motivarem, de vos fazerem ter vontade de aprender. Falei da responsabilidade dos vossos pais de vos manterem no bom caminho, de se assegurarem de que vocês fazem os trabalhos de casa e não passam o dia à frente da televisão ou a jogar com a Xbox. Falei da responsabilidade do vosso governo de estabelecer padrões elevados, de apoiar os professores e os directores das escolas e de melhorar as que não estão a funcionar bem e onde os alunos não têm as oportunidades que merecem.

No entanto, a verdade é que nem os professores e os pais mais dedicados, nem as melhores escolas do mundo são capazes do que quer que seja se vocês não assumirem as vossas responsabilidades. Se vocês não forem às aulas, não prestarem atenção a esses professores, aos vossos avós e aos outros adultos e não trabalharem duramente, como terão de fazer se quiserem ser bem sucedidos.

E hoje é nesse assunto que quero concentrar-me: na responsabilidade de cada um de vocês pela sua própria educação.

Todos vocês são bons em alguma coisa. Não há nenhum que não tenha alguma coisa a dar. E é a vocês que cabe descobrir do que se trata. É essa oportunidade que a educação vos proporciona.

Talvez tenham a capacidade de ser bons escritores - suficientemente bons para escreverem livros ou artigos para jornais -, mas se não fizerem o trabalho de Inglês podem nunca vir a sabê-lo. Talvez sejam pessoas inovadoras ou inventores - quem sabe capazes de criar o próximo iPhone ou um novo medicamento ou vacina -, mas se não fizerem o projecto de Ciências podem não vir a percebê-lo. Talvez possam vir a ser mayors ou senadores, ou juízes do Supremo Tribunal, mas se não participarem nos debates dos clubes da vossa escola podem nunca vir a sabê-lo.

No entanto, escolham o que escolherem fazer com a vossa vida, garanto-vos que não será possível a não ser que estudem. Querem ser médicos, professores ou polícias? Querem ser enfermeiros, arquitectos, advogados ou militares? Para qualquer dessas carreiras é preciso ter estudos. Não podem deixar a escola e esperar arranjar um bom emprego. Têm de trabalhar, estudar, aprender para isso.

E não é só para as vossas vidas e para o vosso futuro que isto é importante. O que vocês fizerem com os vossos estudos vai decidir nada mais nada menos que o futuro do nosso país. Aquilo que aprenderem na escola agora vai decidir se enquanto país estaremos à altura dos desafios do futuro.

Vão precisar dos conhecimentos e das competências que se aprendem e desenvolvem nas ciências e na matemática para curar doenças como o cancro e a sida e para desenvolver novas tecnologias energéticas que protejam o ambiente. Vão precisar da penetração e do sentido crítico que se desenvolvem na história e nas ciências sociais para que deixe de haver pobres e sem-abrigo, para combater o crime e a discriminação e para tornar o nosso país mais justo e mais livre. Vão precisar da criatividade e do engenho que se desenvolvem em todas as disciplinas para criar novas empresas que criem novos empregos e desenvolvam a economia.

Precisamos que todos vocês desenvolvam os vossos talentos, competências e intelectos para ajudarem a resolver os nossos problemas mais difíceis. Se não o fizerem - se abandonarem a escola -, não é só a vocês mesmos que estão a abandonar, é ao vosso país.

Eu sei que não é fácil ter bons resultados na escola. Tenho consciência de que muitos têm dificuldades na vossa vida que dificultam a tarefa de se concentrarem nos estudos. Percebo isso, e sei do que estou a falar. O meu pai deixou a nossa família quando eu tinha dois anos e eu fui criado só pela minha mãe, que teve muitas vezes dificuldade em pagar as contas e nem sempre nos conseguia dar as coisas que os outros miúdos tinham. Tive muitas vezes pena de não ter um pai na minha vida. Senti-me sozinho e tive a impressão que não me adaptava, e por isso nem sempre conseguia concentrar-me nos estudos como devia. E a minha vida podia muito bem ter dado para o torto.

Mas tive sorte. Tive muitas segundas oportunidades e consegui ir para a faculdade, estudar Direito e realizar os meus sonhos. A minha mulher, a nossa primeira-dama, Michelle Obama, tem uma história parecida com a minha. Nem o pai nem a mãe dela estudaram e não eram ricos. No entanto, trabalharam muito, e ela própria trabalhou muito para poder frequentar as melhores escolas do nosso país.

Alguns de vocês podem não ter tido estas oportunidades. Talvez não haja nas vossas vidas adultos capazes de vos dar o apoio de que precisam. Quem sabe se não há alguém desempregado e o dinheiro não chega. Pode ser que vivam num bairro pouco seguro ou os vossos amigos queiram levar-vos a fazer coisas que vocês sabem que não estão bem.

Apesar de tudo isso, as circunstâncias da vossa vida - o vosso aspecto, o sítio onde nasceram, o dinheiro que têm, os problemas da vossa família - não são desculpa para não fazerem os vossos trabalhos nem para se portarem mal. Não são desculpa para responderem mal aos vossos professores, para faltarem às aulas ou para desistirem de estudar. Não são desculpa para não estudarem.

A vossa vida actual não vai determinar forçosamente aquilo que vão ser no futuro. Ninguém escreve o vosso destino por vocês. Aqui, nos Estados Unidos, somos nós que decidimos o nosso destino. Somos nós que fazemos o nosso futuro.

E é isso que os jovens como vocês fazem todos os dias em todo o país. Jovens como Jazmin Perez, de Roma, no Texas. Quando a Jazmin foi para a escola não falava inglês. Na terra dela não havia praticamente ninguém que tivesse andado na faculdade, e o mesmo acontecia com os pais dela. No entanto, ela estudou muito, teve boas notas, ganhou uma bolsa de estudos para a Universidade de Brown, e actualmente está a estudar Saúde Pública.

Estou a pensar ainda em Andoni Schultz, de Los Altos, na Califórnia, que aos três anos descobriu que tinha um tumor cerebral. Teve de fazer imensos tratamentos e operações, uma delas que lhe afectou a memória, e por isso teve de estudar muito mais - centenas de horas a mais - que os outros. No entanto, nunca perdeu nenhum ano e agora entrou na faculdade.

E também há o caso da Shantell Steve, da minha cidade, Chicago, no Illinois. Embora tenha saltado de família adoptiva para família adoptiva nos bairros mais degradados, conseguiu arranjar emprego num centro de saúde, organizou um programa para afastar os jovens dos gangues e está prestes a acabar a escola secundária com notas excelentes e a entrar para a faculdade.

A Jazmin, o Andoni e a Shantell não são diferentes de vocês. Enfrentaram dificuldades como as vossas. Mas não desistiram. Decidiram assumir a responsabilidade pelos seus estudos e esforçaram-se por alcançar objectivos. E eu espero que vocês façam o mesmo.

É por isso que hoje me dirijo a cada um de vocês para que estabeleça os seus próprios objectivos para os seus estudos, e para que faça tudo o que for preciso para os alcançar. O vosso objectivo pode ser apenas fazer os trabalhos de casa, prestar atenção às aulas ou ler todos os dias algumas páginas de um livro. Também podem decidir participar numa actividade extracurricular, ou fazer trabalho voluntário na vossa comunidade. Talvez decidam defender miúdos que são vítimas de discriminação, por serem quem são ou pelo seu aspecto, por acreditarem, como eu acredito, que todas as crianças merecem um ambiente seguro em que possam estudar. Ou pode ser que decidam cuidar de vocês mesmos para aprenderem melhor. E é nesse sentido que espero que lavem muitas vezes as mãos e que não vão às aulas se estiverem doentes, para evitarmos que haja muitas pessoas a apanhar gripe neste Outono e neste Inverno.

Mas decidam o que decidirem gostava que se empenhassem. Que trabalhassem duramente. Eu sei que muitas vezes a televisão dá a impressão que podemos ser ricos e bem-sucedidos sem termos de trabalhar - que o vosso caminho para o sucesso passa pelo rap, pelo basquetebol ou por serem estrelas de reality shows -, mas a verdade é que isso é muito pouco provável. A verdade é que o sucesso é muito difícil. Não vão gostar de todas as disciplinas nem de todos os professores. Nem todos os trabalhos vão ser úteis para a vossa vida a curto prazo. E não vão forçosamente alcançar os vossos objectivos à primeira.

No entanto, isso pouco importa. Algumas das pessoas mais bem-sucedidas do mundo são as que sofreram mais fracassos. O primeiro livro do Harry Potter, de J. K. Rowling, foi rejeitado duas vezes antes de ser publicado. Michael Jordan foi expulso da equipa de basquetebol do liceu, perdeu centenas de jogos e falhou milhares de lançamentos ao longo da sua carreira. No entanto, uma vez disse: "Falhei muitas e muitas vezes na minha vida. E foi por isso que fui bem-sucedido."

Estas pessoas alcançaram os seus objectivos porque perceberam que não podemos deixar que os nossos fracassos nos definam - temos de permitir que eles nos ensinem as suas lições. Temos de deixar que nos mostrem o que devemos fazer de maneira diferente quando voltamos a tentar. Não é por nos metermos num sarilho que somos desordeiros. Isso só quer dizer que temos de fazer um esforço maior por nos comportarmos bem. Não é por termos uma má nota que somos estúpidos. Essa nota só quer dizer que temos de estudar mais.

Ninguém nasce bom em nada. Tornamo-nos bons graças ao nosso trabalho. Não entramos para a primeira equipa da universidade a primeira vez que praticamos um desporto. Não acertamos em todas as notas a primeira vez que cantamos uma canção. Temos de praticar. O mesmo acontece com o trabalho da escola. É possível que tenham de fazer um problema de Matemática várias vezes até acertarem, ou de ler muitas vezes um texto até o perceberem, ou de fazer um esquema várias vezes antes de poderem entregá-lo.

Não tenham medo de fazer perguntas. Não tenham medo de pedir ajuda quando precisarem. Eu todos os dias o faço. Pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, é um sinal de força. Mostra que temos coragem de admitir que não sabemos e de aprender coisas novas. Procurem um adulto em quem confiem - um pai, um avô ou um professor ou treinador - e peçam-lhe que vos ajude.

E mesmo quando estiverem em dificuldades, mesmo quando se sentirem desencorajados e vos parecer que as outras pessoas vos abandonaram - nunca desistam de vocês mesmos. Quando desistirem de vocês mesmos é do vosso país que estão a desistir.

A história da América ( Portugal) não é a história dos que desistiram quando as coisas se tornaram difíceis. É a das pessoas que continuaram, que insistiram, que se esforçaram mais, que amavam demasiado o seu país para não darem o seu melhor.

É a história dos estudantes que há 250 anos estavam onde vocês estão agora e fizeram uma revolução e fundaram este país. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 75 anos e ultrapassaram uma depressão e ganharam uma guerra mundial, lutaram pelos direitos civis e puseram um homem na Lua. É a dos estudantes que estavam onde vocês estão há 20 anos e fundaram a Google, o Twitter e o Facebook e mudaram a maneira como comunicamos uns com os outros.

Por isso hoje quero perguntar-vos qual é o contributo que pretendem fazer. Quais são os problemas que tencionam resolver? Que descobertas pretendem fazer? Quando daqui a 20 ou a 50 ou a 100 anos um presidente vier aqui falar, que vai dizer que vocês fizeram pelo vosso país?

As vossas famílias, os vossos professores e eu estamos a fazer tudo o que podemos para assegurar que vocês têm a educação de que precisam para responder a estas perguntas. Estou a trabalhar duramente para equipar as vossas salas de aulas e pagar os vossos livros, o vosso equipamento e os computadores de que vocês precisam para estudar. E por isso espero que trabalhem a sério este ano, que se esforcem o mais possível em tudo o que fizerem. Espero grandes coisas de todos vocês. Não nos desapontem. Não desapontem as vossas famílias e o vosso país. Façam-nos sentir orgulho em vocês. Tenho a certeza que são capazes.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Sermão de Santo António aos Peixes

O Sermão de Santo António aos Peixes foi proferido na cidade de São Luís do Maranhão em 1654.

Este sermão (alegórico) foi pregado três dias antes de Padre António Vieira embarcar ocultamente (a furto) para Portugal, para obter uma legislação justa para os índios.

O Sermão de Santo António aos Peixes constitui um documento da surpreendente imaginação, habilidade oratória e poder satírico do Pe. António Vieira.

Todo o sermão é uma alegoria, porque os peixes são a personificação dos homens.

Estrutura do Sermão:

 Estrutura Externa – a obra está estruturada em seis capítulos.
 Estrutura Interna – Apresenta uma estrutura tripartida:
a) Exórdio (Cap. I)– onde é feita uma referência sumária do assunto que
se vai tratar; (conceito predicável)
b) Exposição/Confirmação (Cap. II até V)– constitui o corpo da obra e
engloba quatro capítulos.
Na exposição, o autor faz referência às obrigações do sal, indica as
virtudes/louvores em geral dos peixes e apresenta uma crítica aos
Homens;
Na confirmação analisa os louvores em particular e começa as
repreensões: censura a prepotência dos colonos, critica a vaidade, os
parasitas, os ambiciosos, os hipócritas e os traidores;
c) Peroração (Cap. VI)– constitui a parte final do discurso. Aqui, o autor
faz uma conclusão, apresentando uma síntese dos melhores
argumentos usados na segunda parte.

O orador deverá cumprir as regras da eloquência:
docere, isto é, ensinar, explicando e expondo argumentos;
delectare, isto é, agradar, deleitar, captando o agrado e a atenção do auditório, de modo a não causar aborrecimento;
movere, isto é, comover, apelando às emoções e tentando "tocar" os sentimentos do auditório.

Exórdio - Capítulo 1

Neste primeiro capítulo, mais conhecido por exórdio (a introdução), o Padre António Vieira expõe o tema e as questões centrais que vai defender, bem como o plano estrutural do seu sermão.
Vieira, a partir do conceito predicável “Vós sois o sal da terra”, em analogia com “Santo António [que] foi sal da terra e foi sal do mar”, visa criticar a humanidade que está cada vez mais corrupta. Quando ele sugere que a culpa se encontra no sal refere-se aos pregadores que proferem uma coisa e depois agem de outra forma, ou então afirma que a culpa se encontra na terra, referindo-se assim aos ouvintes uma vez que estes não ligam às palavras da verdadeira doutrina.

Capítulo II – Louvor das virtudes dos peixes, em geral
Neste capítulo serão criticados os homens por analogia com os peixes, como está expresso nesta passagem irónica: “Ao menos têm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e não falam”. Vieira deixa bem claro que este sermão é uma alegoria, referindo-se frequentemente aos homens. Os peixes ora serão, metaforicamente, os índios ora os colonos.
Neste capítulo, pois, o pregador pretende repreender os vícios dos homens, opostos às virtudes dos peixes.


Louvores em Geral 
• São obedientes (obediência), ouvem e não falam
"aquela obediência, com que chamados acudistes todos pela honra de vosso Criador e Senhor"
"ouvem e não falam"
• Foram os primeiros animais a serem criados
"vós fostes os primeiros que Deus criou"
• São os mais numerosos e os mais volumosos
"entre todos os animais do mundo, os peixes são os mais e os maiores"
• Não são domesticáveis.
"só eles entre todos os animais não se domam nem domesticam"


Capítulo III – Louvor das virtudes dos peixes, em particular

No capítulo III (considerado o 1º momento da confirmação), Vieira continua a elogiar os peixes, mas desta vez os seus louvores aos peixes são individualizados, visam peixes em particular.
Vieira utiliza quatro tipo de peixes para comprovar a relação entre o homem e o divino.
O Santo Peixe de Tobias, peixe bíblico, grande em tamanho, possui nas suas entranhas um fel que cura da cegueira e um coração que expulsa os demónios («o fel era bom para curar da cegueira», «o coração para lançar fora os demónios» ); representa as virtudes interiores, a bondade, e o poder purificador da palavra de Deus.
A Rémora, peixe tão pequeno no corpo e tão grande na força e no poder, quando se prende a um navio tem força razoável para a segurar ou determinar o seu rumo («se se pega ao leme de uma nau da Índia […] a prende e a amarra mais que as mesma âncoras, sem se poder mover, nem ir por diante.»); expressa a força ou o poder da palavra dos pregadores: a língua de S. António era uma rémora na terra – tinha força para dominar as paixões humanas como a soberba, a vingança, a cobiça e a sensualidade (as quatro naus do sermão).
O Torpedo origina descargas elétricas que acabam por fazer oscilar o braço do pecador («Está o pescador com a cana na mão, o anzol no fundo e a boia sobre a água, e em lhe picando na isca o torpedo, começa a lhe tremer o braço. Pode haver maior, mais breve e mais admirável efeito?»); simboliza o poder da palavra de Deus, em converter, em fazer o ser humano arrepender-se.
O Quatro-olhos contém dois pares de olhos, uns para cima e outros para baixo («e como têm inimigos no mar e inimigos no ar, dobrou-lhes a natureza as sentinelas e deu-lhes dois olhos, que direitamente olhassem para cima, para se vigiarem das aves, e outros dois que direitamente olhassem para baixo, para se vigiarem dos peixes.»); simbolizam a visão, a iluminação: o cristão tem o dever de tirar os olhos da vaidade terrena, olhando para o céu, e sem esquecer o inferno.

Síntese
Todos estes elogios que o Padre António Vieira tece aos peixes são o contraponto dos defeitos dos homens, evidenciando assim os vícios destes. (Raciocínio por contraste)


Capítulo IV – Repreensão dos vícios dos peixes, em geral
Neste capítulo, Vieira repreende os peixes em geral, criticando neles comportamentos condenáveis nos homens. (Raciocínio por semelhança)
O pregador confirma a tese de que os homens se comem uns aos outros, dando o exemplo dos peixes.
- «[...] é que vos comedes uns aos outros.»
- «Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos.»

- «Se os pequenos comeram os grandes, bastara um grande para muitos pequenos; mas como os grandes comem os pequenos, não bastam cem pequenos, nem mil, para um só grande.»

Capítulo V- Reprensão dos vícios dos peixes, em particular

De carácter particular, Padre António Vieira usa quatro exemplos de peixes que se referem a
tipos comportamentais.

O roncador que simboliza os arrogantes,
o pegador, que simboliza os oportunistas,
o voador, que simboliza os ambiciosos e o pior de todos,
o polvo, que simboliza o traidor e o hipócrita. Este último, tem uma aparência de santo e manso e um ar inofensivo, mas na essência é traiçoeiro e maldoso, é hipócrita e faz-se de amigo dos outros e no fim “abraça-os”. Neste capítulo são usados os exemplos de São Pedro, Sto Ambrósio, São Basílio e
o Gigante Golias.

Capítulo VI- Peroração

Por fim, a despedida, no capítulo VI, onde o orador retoma os pregadores de que falava no
conceito predicável, servindo-se dele próprio como exemplo alegando que não estava a
cumprir a sua função. Alega também que ele (homens) e os peixes, nunca vão chegar ao
sacrifício final, uma vez que os peixes já vão mortos e os homens vão mortos de espírito.
Padre António Vieira diz que a irracionalidade, a inconsciência e o instinto dos peixes, são
melhores do que a racionalidade, o livre arbítrio, a consciência, o entendimento e a vontade
do homem.
Conclui-se assim, fazendo um apelo aos ouvintes e louvando-se a Deus, tornando esta última
parte do sermão um pouco mais familiar, para que se estabeleça de novo a proximidade entre
os ouvintes e o orador.

Este sermão teve como ouvintes os colonos do Maranhão e tem grande coesão e coerência 
textual graças à utilização de recursos estilísticos, articuladores do discurso e argumentos de
autoridade e analógicos para validar e confirmar os testemunhos narrados. Todo o sermão é
alegórico, uma vez que são utilizados os peixes como figuras concretas para a crítica aos
homens.
O sermão é,pois, todo ele feito de alegorias, simbolizando os vícios dos colonos do Brasil ("peixes grandes que comem os pequenos") em vários peixes.

O sermão, o texto de que hoje dispomos, é apenas uma das partes que compunham o espetáculo teatral da pregação, onde intervinham outras unidades significativas como o espaço cénico, a iluminação, a marcação, os gestos, as entoações. A própria arquitetura barroca adotou o modelo jesuítico de igreja-salão, sem naves laterais para que o púlpito pudesse ser visto.


O estilo de Padre António Vieira remete para uma vertente medieval que assenta na alegoria, mas também para processos concetistas que o celebraram como um tecelão barroco, cheio de perícia em desfiar os textos bíblicos, para compor um texto novo. No entanto, Padre António Vieira tece este discurso velho, moldando-o às suas ideias, brincando com as palavras.

Para esse desempenho usou:
os polissíndetos;
as comparações;
as anástrofes;
as exclamações;
os trocadilhos;
os paralelismos anafóricos;
as antíteses;
a anáfora;
as gradações;
as interrogações retóricas;
...

O Pe António Vieira é considerado o maior orador sacro português e domina todo o século XVII pela sua personalidade vigorosa que capta a atenção dos ouvintes.

Destaca-se, ainda, pela coragem evidenciada na luta, através das palavras, contra a exploração dos povos oprimidos e pelo patriotismo evidenciado na luta pela manutenção da independência nacional, numa época instável como foi a da Restauração.

É marcante, também, o seu anticonvencionalismo e ousadia ao combater a organização social e religiosa mais poderosa de Portugal – O Tribunal do Santo Ofício – cujas práticas anti-cristãs denuncia, independentemente dos perigos a que se expôs e do sofrimento que tais atitudes lhe causaram.

 Razão do título do Sermão de Sto António aos Peixes:

O sermão inspira-se na lenda medieval segundo a qual Santo António, numa das pregações destinadas a emendar o comportamento dos homens, decide falar aos peixes ao constatar que os homens não lhe prestam atenção. Compreensivos e atentos, os peixes levantam as cabeças à superfície das águas, comprovando a força da palavra do santo.

António Vieira imitá-lo-á visto que também não é ouvido pelos colonos do Maranhão que exploram os ameríndios e os escravos negros; à semelhança do santo que tanto venera, falará aos “peixes” – alegoria dos colonos. Deste modo pode criticá-los sem temer represálias.

Funções do sermão:

O sermão tem uma missão social (salvar os ameríndios da cobiça e exploração);
 é também um instrumento de intervenção na vida política do país;
tem também uma missão espiritual: divulgar a palavra de Cristo, o Evangelho e histórias de santos como exemplos de condutas a imitar.

 Intencionalidade comunicativa do pregador:

O sermão é um texto que pretende:

a) ensinar através do recurso a citações bíblicas, dados da História natural, exemplos da sabedoria popular. Tem, portanto, uma função informativa (informa sobre diversos saberes)

b) agradar aos ouvintes através do recurso a frases exclamativas, interrogações retóricas, gradações, apóstrofes, alegorias. Tem uma função emotiva (desperta emoções nos ouvintes)

c) Persuadir os ouvintes através da argumentação por meio do confronto com a Bíblia, emprego do modo imperativo, do vocativo e interrogações retóricas. Tem uma função apelativa (interpela os ouvintes, obrigando-os a reflectir no que é dito)

d) intervir na sociedade portuguesa da sua época.