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quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Carta ao Padre António Vieira



Xavier Pedro Henriques
Rua de S. António, 13, R/C
244-1654, LEIRIA
PORTUGAL                                                                                                                                     
                    
Rvmo. Pe.    António Vieira
                                                                                                                    65010  SÃO LUÍS
Estado do Maranhão
                                                                                                                                                                         BRASIL


                                                                          

                                                                                       Leiria, 27 de outubro de 2014


Reverendo Senhor Padre,

Venho por este meio fazer chegar a V. Rvma.  informação acerca dos vícios e defeitos da sociedade contemporânea.
Como bem sabeis, o Homem sempre preferiu satisfazer os seus apetites do que servir a Cristo e, pela mesma razão é que a Terra ainda  não se deixa salgar. É certo que muitas vezes, ainda mais agora no meu tempo, existem cada vez mais provas do contrário, que o sal não salga, padres que preferem pregar como lhes apetece, servindo os seus interesses, e que não praticam ou seguem a doutrina de Cristo. O Homem não muda, é o que deveis estar a pensar, mas muita coisa tenho  feito no sentido de reaver aquele Homem culto que servia e adorava a Cristo, louvando-O e seguindo os Seus ensinamentos. Mesmo assim, o Homem continua a não escutar a palavra de Deus, a não seguir os Seus bons exemplos e a não aprender com os mesmos. Além disso, continuam cegos, ou porque não querem ver, ou porque não os deixam ver. Precisam de abrir as entranhas destes novos pregadores e ver o seu coração ainda puro, mas já cansado de proferir ensinamentos que ninguém põe em prática. Quem vai à santa missa, ou é porque está doente, ou é para visitar os amigos, ou é porque quer mostrar a todos as suas novas vestes.
Já ninguém sabe o que é a fé, o que é o amor. Apenas lhes interessa meras atrações, dinheiro e uma vida repleta de prazer, viagens e negócios. Além do mais, nem têm tempo, pois passam a vida num correr de um lado para o outro, num andar de praça em praça, num subir e descer, numa tentativa de fazerem tudo sem nada fazerem. “Quem tudo quer tudo perde”, mas enquanto uns têm e nada têm, outros nada têm e tudo têm. Isto tudo porque o dinheiro é um mero material ao qual nós, homens, nos prendemos, e porque o amor e a fé são aquilo que realmente importa. Pois, como já deveis ter percebido, os homens continuam a comer-se uns aos outros, e mais do que isso, os grandes comem os pequenos. Quem é rico, mais rico fica, e quem é pobre, mais pobre fica. O mesmo podemos dizer dos fracos e inocentes, que são comidos todos os dias, tal como é o pão comido todos os dias pelos pobres.
Concluindo, o Homem continua  igual ao Homem para quem vós pregastes o sermão naquele dia 13 de junho de 1654, na cidade de São Luís do Maranhão.
Peço-vos que abençoeis estes novos pregadores, para que se abram ao auditório, para que o mesmo veja os novos corações.
Antecipadamente grato pela atenção,
apresento os meus mais respeitosos cumprimentos.

Xavier Henriques